Airton Monteiro - NOVA CASA, NOVOS TEMPOS
"Eu nunca penso sobre o futuro, ele chega cedo demais". Albert Einstein
Por Flávio José Jardim
atualizado há 5 anos
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Há alguns meses, quando Edgar, foi comunicado pela direção da empresa que ele faria parte de um novo momento na empresa, o chamado Home Office, ou, fazer o trabalho em casa, sua cabeça virou um turbilhão de problemas.
Casado, com dois filhos de 12 e 13 anos, um casal de adolescentes, criados em apartamento e shopping, cheios de coleguinhas de escola e vizinhança, morando num bom apartamento, relativamente perto do trabalho dele e da esposa, sem empregada permanente, apenas uma diarista, que duas vezes por semana faz o trabalho de limpeza.
Todos comiam fora. Inclusive os filhos, que ficavam os dois expedientes na escola.
E nos finais de semana ou viajavam ou iam a um bom restaurante, depois, ou antes, do cinema, no shopping.
O Edgar não sabia se seria escalado para trabalhar em casa imediatamente, algumas tarefas tinham restrições para isso.
E ele estava conectando todas as explicações para se situar nessas restrições.
Por exemplo,
a) tarefas que exigem que o empregado vá até o local de trabalho todos os dias da semana: isso ocorre quando ele utiliza ferramentas para executar seu trabalho e as mesmas não podem ser retiradas da empresa, por não serem portáteis ou às vezes perigosas, ou talvez devido ao sigilo.
b) Em outros casos, é necessário e essencial o contato com as pessoas, como médicos e enfermeiros, com seus pacientes. Mas esse não é o seu caso. Ele é engenheiro projetista!
c) Ou naquelas funções em que há atendimento presencial, seja para dar aulas, como sua esposa, prestar informações ou ajudar fisicamente em certas tarefas.
À medida que ele ia pensando nas restrições, descobria que não se enquadrava em nenhuma delas. Ele nem era médico nem controlador de voo. A esposa era professora do ciclo básico. Será difícil substituí-la, mas facilmente remanejada, para um local mais próximo da nova moradia. Isso porque eles decidiram que, se era para mudar de local de trabalho, iriam morar longe do inferno do centro da cidade.
Trabalhar em casa, sem o apoio dos colegas e das naturais confusões que eles fazem daria uma saudade danada!
Sem o espaça apropriado, sem os chefes que enchem o saco, mas que, no final são os responsáveis e pagam o pato... e tudo mais.
- Vou entrar em depressão!

Não faz muito tempo, durante uma palestra sobre esse assunto, quando ele nem imaginava que cairia em cima dele, ouviu falar na regra dos três perfis:
Ambiente de trabalho, família e o próprio empregado,
Que devem ter algumas características, para que o trabalho, fora da empresa funcione adequadamente e seja produtivo.
Tem gente que só se movimenta se o chefe mandar. Esse não serve!
A família não colabora e às vezes até atrapalha: melhor desistir!
Aquela velha questão de que cada um sabe onde seu sapato aperta e se eu quero continuar a usar sapato...
Mas não espere que as empresas sejam muito compreensivas. Depois de algum tempo, esperando que você se resolva ou dê um jeito em seus problemas, Ela vai resolver à sua revelia! Se não acontecer algo de força maior!
Os dois carros na garagem do prédio e o estacionamento no local de trabalho, o supermercado próximo, juntamente com a farmácia, a frutaria e a padaria.
A boa escola das crianças.
Tudo que seu esforço e a vida moderna foram capazes de lhe proporcionar, inclusive os engarrafamentos e o stress diário de ir e vir do trabalho.
E agora? Como acomodar isso tudo?
Fala-se em reduzir os gases na camada de ozônio, deixar os carros em casa. Redução dos gastos empresariais com manutenção de dispendiosos escritórios e a chegada da Internet das Coisas e da 5ª Geração da Internet, tudo está nos levando a isso na maior carreira.
Poderíamos ter feito isso mais devagar, mais programado. Mas...
No dia em que governantes, um pouco mais inteligentes, descobrirem que estavam gastando dinheiro com coisas inúteis, vai começar o sufoco.
A redução e economia com gastos com prédios, manutenção, água, energia, papel, café... etc., vai beirar os 100%! A manutenção de vias públicas, construções de viadutos e pontes e canais, vão precisar ser repensadas, em patamares mais adequados à redução do trânsito.
Para desafogar o centro da cidade, haveria incentivo para moradias nos arredores mais distantes. Um mais ou menos eficiente transporte público, para os eventuais deslocamentos para médicos, teatros ou outras necessidades, seria suficiente. E menos custosos do que os atuais.
Foi muita discussão em casa. Havia coisas boas, claro. Não ter que acordar cedo todo dia nem ficar fora o dia inteiro, mesmo tendo o controle absoluto sobre as tarefas, através do computador. Lembram do Big Brother de George Orwell? Aconteceu! Não foi em 1984, mas, chegou! Ou você imaginou que, por estar em casa, não vai ser controlado?!
Qual o local do apartamento que seria melhor para meu pequeno escritório sem que as crianças mexam em meus papeis nem transformem meu computador em cassino?!
E como seria meu almoço? Ficaria congelado? Quem faria o congelamento? Eu não gosto daqueles pratos congelados do supermercado e dizem que microondas não é uma coisa muito saudável. Tem os sistemas de entrega por aplicativo... Uma semana sozinho em casa e eu vou arrancar os cabelos da cabeça! E no dia em que não houver aula para os meninos ou estiverem em férias?
Depois de algumas semanas e de tantas reticências, muitas discussões e até mágoas. Choros e cara feia por muitos dias, a família resolveu partir para resolver o inevitável e achar o improvável.
Perto ou longe da cidade? Casa ou apartamento? A previsão dos antigos futurólogos era de que os centros das cidades ficariam congestionados.
Todo mundo iria preferir morar nos grandes centros! Cambada de doidos!
Seria preciso adequar algumas coisas para se manter produtivo. Trabalhar fora do local de trabalho, depois de 300 anos desde a Primeira Revolução Industrial, exige uma nova e grande disciplina.
Primeiramente se convencer que em casa ou não, trabalho é trabalho! Vestir-se de forma adequada. Não precisa ser de paletó e gravata, mas você tem de estar sempre pronto para eventualidades, inclusive via computador!
Estabelecer seus próprios horários e tarefas. Cumprir suas metas. Manter distância do sofá, da geladeira, da TV e da cozinha.
Disciplina para organizar o espaço de trabalho e para gerenciar o andamento de suas tarefas e não se perder nos prazos.
Além disso, trabalhar em casa pode gerar uma sensação de isolamento, problemas familiares e queda de concentração, por conta de ruídos domésticos, distrações, demandas de filhos e cônjuge. E do cachorro!
Depois de muita discussão e de estabelecerem as regras básicas para convivência nessa nova situação, resolveram sair num domingo bem cedinho, para visitar bairros mais afastados. Encheram o carro de comidas e bebidas e um bocado de remédio, para picada de mosquito, mordida de cobra... Parecia que iriam para o fim do mundo.
Vai que precisa né?
À medida que se afastavam do centro, foram descobrindo alguns bairros até bonitinhos. Com pracinha, crianças brincando na rua, um pessoal batendo bola num campo de várzea. Interessante!
Algumas granjas. Condomínios de casas, que pareciam cidadezinhas do interior.
Um clima gostoso. Pouco barulho. As pessoas sentadas conversando, outras caminhando sem pressa.
Era como se o tempo houvesse parado.
Nem parecia estar tão perto de onde moravam.
Nem lembrava as discussões sobre novas tecnologias que praticamente acabariam com o mundo civilizado!
Na hora do almoço, pararam num Posto de Combustíveis que, na Loja de Conveniência, anunciava almoço caseiro, - mas eles foram lá só para comprar refrigerantes!
Fazia tempo que não comiam uma coisa tão gostosa.
Parecia os tempos de antigamente, na casa da vovó, no interior do estado.
Na conversa com o gerente, descobriram que o posto fornecia qualquer tipo de produto para bebida e alimentação, que fazia o serviço de entrega para os clientes associados e ainda recebia por mês.
Todo final de semana, os novos moradores costumavam se reunir ali para tomarem cerveja e trocarem ideias. Alguns levavam até violão.
- “É muito animado! ” - Disse o gerente do Posto.
Descobriram que havia ainda três casas disponíveis nas redondezas. Duas a venda e uma para locação. Resolveram visitá-las.
Uma das casas era um velho chalé distiorado, com um terreno grande, cheio de fruteiras. Na verdade, era a casa sede, de um pequeno sítio. Ficaram encantados. Se for para mudar, então vamos mudar radicalmente!
Será o máximo de tecnologia num contexto de simplicidade!
A semana seguinte foi de negociações. Comprar, alugar, como conseguir dinheiro, fazer os contatos, preparar os documentos, negociar com o banco.
Três meses depois, mudavam-se para uma nova realidade.
- Meu Deus! Será que isso vai dar certo?
Nota. Essa crônica foi escrita, acho que em outubro de 2019. O Corona vírus ainda estava em laboratórios! Home Office parecia uma peça de ficção, sei lá para ser experimentado no próximo governo! O mais interessante é a citação do início do artigo, sobre pensar no futuro. Futuro é sempre uma coisa muito longe! De repente ele nos cai no colo.
Estou reeditando e procurando o restante dele, como uma sugestão do que se fazer para melhorar a vida que vem por aí.
Queria lembrar uma coisa que acho importantíssima: as relações de trabalho vão mudar muito nesses dois ou três próximos anos! Emprego e trabalho vão ser coisas totalmente diferentes! Quem vai e não vai fazer diferença será fundamental. E sua renda, vai ser definida por você. O que sabe, o que pode, e o que quer fazer! E, se tem alguém disposto a pagar por isso!

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