Coluna de Airton Monteiro. “CHOCADA”
Um dia desses republiquei uma das minhas velhas crônicas. Flintstones e Jetsons, se não me falha a memória. Com o intuito de relembrar algumas coisas sobre o home office que, parece, agora, chegou para ficar.
Por Flávio José Jardim
atualizado há 4 anos
Publicado em 11 de junho de 2020, 13h46
E, na descrição da casa e da vida da família do Edgar, o nosso herói da história, faço um comentário besta sobre o uso da IoT internet of things, internet das coisas: “A garotada já está querendo colocar chips até nas galinhas de capoeira para descobrir onde elas põem os ovos. Brincadeira!” Brincadeira! Como vocês podem ver, corrigi de imediato. Dizendo que os chips nas galinhas, era brincadeira!
A gente não deve brincar com coisas sérias! Vai que acontece!
Pois é meus caros amigos e poucos leitores, não é que aconteceu mesmo!
A TIM e a JBS, olha só que turma boa! Estão implantando a internet das coisas – IoT- nos seus aviários, lá no estado da Santa e Bela Catarina.
Além de utilizarem uma consultoria, a F&S Consulting, para criarem um sistema integrado de IA - inteligência artificial e IoT - internet das coisas, para monitorar as galinhas. E ainda batizaram o feito de “Granja 4.0”. Olha que a gente não tem ideia do que fizeram nos três pontos mais atrás ou do que ainda vem pela frente. Coitadas das galinhas. Vão perder para a tecnologia o sossego e a fleuma milenar da espécie!
O sistema que estão implantando analisa luz e temperatura. Umidade e qualidade da água. Distribuição de hormônios. Hora de botar ovo, cacarejar e fazer cocô. E dá informações até sobre o comportamento e humor das galinhas:
- A Zefinha hoje acordou mal humorada e bicou o único ovo que botou!
Meu Deus! O que virá mais por aí, para facilitar nossa vida?! E infernizar a das galinhas?
E ainda arrumaram a desculpa de que nesses tempos de pandemia, melhor não ter pessoas caminhando dentro dos aviários.
Mais uma arrumação para botar gente no olho da rua! Assim, daqui a alguns anos não haverá quem compre as galinhas chipadas.
Interessante são as explicações ajuntadas às matérias: Vão usar o portfólio 4G da TIM. Como se, nós pobres mortais, soubéssemos que raios de protocolo é esse?!
Aliás essa palavra ‘protocolo’ vai começar a tomar conta de nossas vidas, depois dessa peste desgraçada que nos arranjaram.
Até hoje a gente conhecia ‘protocolo’ somente como uma atrapalhação de vida nas repartições públicas. Botaram a desgraça no ventilador e também no respirador e vocês já viram o que está acontecendo.
Acredito que dentro em breve, em vez de fazerem triimmm, nossos telefones vão cacarejar, numa boa! Tudo dentro do Protocolo 4G da TIM!
Gostei mesmo foi do nome do ‘head’ de Marketing Corporativo da Operadora. ‘Dal Forno’. Achei uma piada de mal gosto, tratando-se de franguinhos ‘al primo canto’ como se dizia antigamente. E o ‘head’ no lugar de chefe ou diretor, está o máximo. Eita povinho com alma de colonizado!
Para não pensarem que estou inventando coisas, você pode consultar a realidade dessas afirmações no Google é claro “pelos tags”: 4G, Granja 4.0, IOT, JBS, NB-IOT, TIM. Já que não pega bem dizer, “pelos títulos”. E também você não pode consultar isso em nenhuma enciclopédia, porque, já não mais existem.
E depois disso, tenho que ligar para o Edgar da história que contei mais atrás e lhe dizer que seus filhos estavam certos. Tem mais é que botar chips nas galinhas mesmo, para saber onde essas penosas estão escondendo os ovos. Acho que elas vão ficar CHOCADAS, mas o que é que se pode fazer, não é mesmo!? Não se pode parar o desenvolvimento! (Ou pode?)
E então eu fico me perguntando, o que será que pode vir mais pela frente?!
Ovos em cubo! Seria uma ideia arretada, para Granja 4.1. Quem sabe?
Convido meus colegas de TI para pensarem um pouco no assunto. Criar uma start up e se juntarem com os colegas de veterinária e biotecnologia para repensarem o oveiro e o fiofó das galinhas.
Agora, que a ideia é interessante e prática, lá isso é.
Os ovos sairiam da linha de montagem, ou seria linha de poagem(?), já embalados, em caixas, direto para o transporte, sem qualquer contato manual.
E com os caminhões auto dirigidos e o mau elemento humano, fora de questão, a vida seria uma questão de produtividade em escala.
Só produção. Só Produtividade, tudo sob a tutela dos computadores, lá nas nuvens ouvindo os anjinhos tecnológicos cantarem o glória. Sem salários, sem encargos, sem a chatice dos sindicatos, o mundo seria um paraíso. Inclusive para as galinhas que, não tendo mais quem compra-las, teriam que aprender a fazer tricô, para envelhecerem em paz. O melhor dos mundos. Vocês não acham?
Ovos, Oveiros, Ovários, Óvulos. Isso lembra a vocês mais alguma coisa?
É bom começar a pensar. Um velho alemão conhecido de muita gente já tinha experimentado essas coisas. Chamavam-na de eugenia. Eugenia mesmo viu? Nada a ver com Eugênia, nossa amiga.
Nós estamos ficando iguais aos sapos cozidos que, lançados numa panela de água fria, não reagem. Ou melhor, nem tomam conhecimento de quando a água começa a esquentar. Chega uma hora em que não é mais possível reagir ou não dá mais tempo. Muitos de nós nos apegamos a reagir apenas sobre algumas coisas, que deixaram de fazer sentido há muito tempo. E as coisas mudaram, e a gente continuou fazendo o que sempre fez, pensando que teríamos os mesmos resultados. Isso me faz lembrar uns tempos atrás, e de umas coisas que vivi por lá.
Fazia um trabalho de formação de lideranças empresariais pelo SEBRAE, no estado de Tocantins, logo em seus primeiros anos de existência, quando só havia praticamente a Belém/Brasilia, reta e mal acabada, cortando o estado inteiro de alto a baixo.
E havia um grande programa de construção de estradas. E eu passava a vida, andando por aquelas estradas de barro e em obras, ora com lama ora com poeira, me dando por feliz quando entrava numa balsa para atravessar o Araguaia ou o Tocantins. Isso todos os meses durante alguns anos.
As tribos indígenas começaram a brigar, incentivados pelos de sempre, com o governador, por causa de uma determinada estrada de terra que passava pela reserva, e que era seu ganha pão, seja através de barreiras ilegais que eles criavam para cobrar pedágios dos veículos, seja para vender seus produtos à beira da estrada.
Me lembro que todo dia saiam artigos nos jornais e discursos inflamados nas rádios. Eu nem podia evitar de saber. Trabalhava durante três quatro meses com lideranças de cada cidade e tinha que participar das discussões.
Os grupos de defesa dos índios, defenestrando o governador e aqueles que discordavam, calados, como é costume. Os sapos!
Passado algum tempo, deu-se um grande suspiro coletivo. O governador, atendendo a tantas queixas e pedidos aumentou em alguns poucos quilômetros a nova estrada e liberou a terra dos índios, conforme eles e seus defensores queriam. Passou por fora!
A paz voltou a reinar no Tocantins.
Que eu saiba, nenhum dos defensores, foi para dentro da aldeia, trabalhar por uma nova forma de os índios ganharem dinheiro. Partiram para outras batalhas linguísticas mais fáceis de serem lutadas.
O protesto é uma das formas mais eficazes e justas de a população se defender de atos arbitrários de seus governantes. Mas protestar por protestar. Ser contra só pra ser contra. Defender ou acusar coisas que a gente não sabe exatamente o que são. Marchar pela cabeça dos outros como um batalhão de piolhos, pode nos levar para dentro de um buraco e, normalmente, aqueles que gritaram, berraram e convocaram, desaparecem quando a casa cai e vão arranjar outra casa, ou melhor, outra causa!
Assim com as coisas sociais e políticas, assim com a tecnologia! E aí não adianta se dizer chocado ou chocada, nós não somos galinhas.
Cuidado com a nuvens! Elas nunca foram tão perigosas, desde que inventaram de guardar nelas nossos segredos! Devemos ter um cérebro um pouco maior que o das galinhas.
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