Sociedade

CONSIDERAÇÕES SOBRE ELEFANTES

Desde que Aristóteles questionou o que seria 'verdade', muitas mentes brilhantes têm tentado defini-la; lamentavelmente, sem o conseguir. E nós, continuamos nessa mesma vã esperança!

Por Flávio José Jardim atualizado há 4 anos
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CONSIDERAÇÕES SOBRE ELEFANTES

No mundo em que vivemos e principalmente nos dias atuais, a Mentira se transformou na ‘única coisa verdadeira’ que existe.

Regimes políticos e profissões, ciências e religiões, artes e literatura, crenças místicas e filosofias, nada está imune a esse mal. Convivemos com a mentira, com a falsidade e com a hipocrisia como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Assusta-me em meio a isso tudo, que órgãos da imprensa e até do judiciário, queiram enquadrar a mentira numa nova pipeta de laboratório denominada fake news, falsa notícia.

Como assim, falsa notícia? Diria meu neto. Se os meios oficiais de imprensa, através de seus apresentadores, têm a cara de pau de mentirem deslavadamente sobre fatos, cujas imagens estão sendo mostradas no mesmo instante, desdizendo tudo que está sendo dito.

A mentira virou norma de convívio social e nos relacionamentos humanos: - -

- Ah! Querida, quanta saudade eu sinto de você! Quando há meia hora havia descido o cacete sobre a amiga, para as outras amigas?!

Nas pregações de pseudo-gurus, no discurso político de quem quer ganhar votos ou prejudicar o adversário e mesmo na linguagem "convenientemente" dita diplomática, em que vemos grandes líderes fazerem declarações quando, de fato, querem dizer algo exatamente ao contrário.

Acho que nossos problemas começaram, logo no momento da criação, com a plantação da árvore do bem e do mal, no meio do jardim do Éden, o famoso pé de maçã, que nos dá problema até hoje. A gente nunca deveria ter recebido o direito de escolher entre o bem e o mal. Tá na cara, que esse povinho iria se esbaldar na banda podre. E foi o que aconteceu.

          -Verdade? O Que é a Verdade? A gente vai morrer de procurar e não vai achar nunca!

Lembra da história dos cegos e do elefante?

Quatro homens cegos encontram um elefante. O primeiro agarra a pata do animal e acredita ter agarrado o tronco de uma árvore. O segundo segura a cauda e pensa tratar-se de um chicote. O terceiro toca a tromba do elefante e julga ser uma mangueira de incêndio, enquanto que o quarto homem apalpa o lado do corpo do elefante e tem certeza de que se trata de uma parede.

Qual a moral desta história? Muitos usam esta parábola para explicar que tudo, na vida, é relativo. Outros usam-na para exemplificar como agem os diferentes povos: cada povo tira suas próprias conclusões, diferentes entre si, e, presumindo estar com a razão, luta para impor "a sua verdade".

Mas, o fato é que o elefante é a realidade. E que cada um, e isso também é fato, ao vê-lo o define como bem entende. Cada um é dono da sua verdade, embora nada do que diga seja verdadeiro.

Vamos voltar às mentiras do nosso dia a dia:

Não gosto de usar fatos e notícias recentes, pelo motivo de que são tão manipuladas e distorcidas que a gente tem certeza de que não tem certeza.

Mas nesse último mês, aconteceu um fato tão chocante para os brasileiros que vale, pelo menos, passar a mão em cima para ver se tem mais angu do que caroço: a saída retumbante e espalhafatosa do ministro da justiça. Pessoa em quem os brasileiros se acostumaram a confiar de olhos fechados. Foi o primeiro chute na nossa canela.

O segundo chute foi uma série de denúncias feitas na hora da saída. Logo depois, vieram os desmentidos e denúncias do lado contrário. E para fechar, entra um ministro do supremo autorizando a divulgação de uma reunião fechada e secreta.

Houve um fato! Ou melhor, um elefante! E nós somos aqueles pobres cegos privados de constatar a verdade. A verdade é que o elefante é um elefante e nunca isso vai ser mudado. Mas eu, pobre ceguinho, vou continuar achando que era apenas uma mangueira de incêndio!

A mentira tomou conta de tudo. Quanto mais se fala ou quanto mais falam, pior fica. A gente não vai saber a verdade nunca.

Porque a verdade não existe. Sinto muito e vou repetir: A verdade verdadeira, não existe!

E não é pelo motivo de os ceguinhos não conseguirem ver o elefante ou o fato como um todo. É porque o próprio elefante, ou o próprio fato, não conseguir se mostrar.

Senão vejamos: o ministro que nós sempre admiramos tinha suas razões, seus pensamentos, seus objetivos, seus planos... e cada vez que tentava implementa-los se chocava com a parede da barriga do elefante. A barriga era verdadeira, mas estava atrapalhando. Vamos lá: essa era a verdade dele! A verdade do ceguinho do ministro. Estava errado? Não. Mas era só a verdade dele.

Vejamos o ponto de vista do outro ceguinho: ele chamou o ministro para assessorá-lo, no entendimento daquele fato enorme que era a barriga do elefante. Cada coisa que ele desejava não conseguia, porque ele achava que o elefante era uma árvore enquanto ministro tinha certeza de que era uma mangueira de incêndio e é claro que eles não iriam se entender nunca nem se passassem a vida inteira explicando um para o outro o que era um elefante.

Ai entra um terceiro que, apesar da idade, e gostaria de lembrar que idade não é sinônimo de sabedoria e hoje tenho a experiência própria para afirmar isso, volto ao terceiro, supremo, que sem entender muito como se cria e se trata de   elefantes, bota seus excrementos, excremento de elefante é claro, no ventilador e deu no que deu! Tivessem chamado um certo cuidador de elefantes, de um certo tempo atrás e talvez o problema houvesse sido menor.

E aí entra a imprensa que não entende nada de elefante e de animal nenhum, que apenas tem o desejo de ver o circo pegar fogo, e complica tudinho piorando a cada dia.

Essa história de procurar a verdade é sempre problemática, porque, por mais que se procure, não se acha. Os ceguinhos não estão sacaneando uns aos outros não. Eles estão, cada um deles, absolutamente convencidos que viram o elefante, tocaram no elefante e afirmaram que o elefante era um elefante sob todos os rigores da lei. A não ser que, por milagre, eles tivessem a visão de volta e a humildade de reconhecerem que estavam errados, dois milagres que não vão acontecer. Nunca!

E nós? Como ficamos? Nós somos uma plateia de cegos, surdos e mudos e ainda por cima, burros, por nos deixarmos envolver nessa enorme mentira que é a vida, E gritamos, e brigamos e discutimos, criamos inimizados e, como a mentira é o apanágio da vida em sociedade, em breve, eles estarão dando tapinhas nas costas uns nos outros e “a história entra por uma perna de pinto e sai por uma perna de pato e o senhor rei mandou dizer que contasse mais quatro”.

As coisas voltam ao normal. As mágoas maiores ainda aflorarão um pouco, mas depois tudo passa, já que a mentira é o arcabouço da vida em sociedade, da democracia e, para que não dizer, das nossas vidas pessoais.

Conheço muita gente que se livra desses problemas, através de saídas, bem criativas, e por que não dizer, estruturadas?

         Uma primeira saída é enfiar a cabeça na terra, como avestruz. É uma ideia, já que a ignorância é o pressuposto básico da felicidade. Já que nada sei, e sei que não sei, não posso me preocupar com o passado o presente ou o futuro e vivo no Paraiso. Tá lembrado da árvore do bem de mal no meio do Éden? Pois é. Essas pessoas resolveram nunca passar perto da árvore e nem sabem o gosto da maçã!

O segundo tipo é aquele que vive e sobrevive sob uma ideologia e se livra de ter que pensar muito.

A ideologia que ele escolheu tem a resposta pra tudo. Ideologia, de uma forma bem sintetizada, é um conjunto de valores, objetivos, regras de vida e de convivência que, um dia, alguém ou alguns estabeleceram e que passam a ser meu manual de vida, de pensamento, de crenças.

Todos os meus passos e sobretudo, toda minha maneira de ver e interpretar as coisas estão em conformidade com ‘minha ideologia’. Para não parecer muito complicado é só observar como se posicionam diante de cada fato, os ‘seguidores’ da direita e da esquerda. A gente já sabe o que eles vão dizer, a quem vão defender e como irão se posicionar.

São pessoas felizes como os avestruzes. Eles não têm medo das mentiras do outro lado, porque estão assoberbados com as suas próprias mentiras, que são as suas verdades, ou, a sua visão do elefante.

Depois dos seguidores de ideologias, vêm os crentes. Eles se escondem atrás da fé, da mesma forma como os seguidores da ideologia e não se preocupam em saber qual é a verdade. Eles também têm seu arcabouço, que sabem muito bem não ser verdadeiro, mas, que é mais cômodo se posicionarem dentro dele, resguardados que estão da realidade da vida. Nem se preocupam em saber como é o elefante. Se sua crença lhes disser que um elefante se parece com uma girafa e que ela está correndo risco de extinção com as queimadas da Amazônia, eles acreditam piamente, nem questionam se existe girafa ou elefante lá. E vão rezar para isso não acontecer. Não precisam correr pra lá para os defenderem. A força da oração os consola!

Há uma corrente de pensamento que sustenta não haver nenhuma verdade além daquilo que é perceptível aos órgãos sensoriais

Outra corrente de pensamento, no entanto, advoga que cada um tem sua própria verdade, não existindo, portanto, a verdade única. Segundo estes pensadores, não há percepções e sensações uniformes. São diferentes de uma pessoa para a outra e de um contexto para outro qualquer.

Um exemplo: coloca-se uma mão na água fria e a outra na água quente; e, a seguir, ambas em água morna. Uma mão terá a sensação de que a água morna está fria enquanto a outra, a de que a água morna está quente.

Olha o elefante aí de novo!

Mas, eu estava pensando aqui com meus botões: sabe porque ficamos nesse emaranhado de mentiras e às vezes nem sabemos como nos safar?

Por que nós somos mentirosos. A mentira parte de nós mesmos. Se existe um exercício para aprender a identificar a verdade, esse exercício deveria começar por nós mesmos. Descobrindo nossas próprias verdades.

Cada um de nós poderia se questionar sobre seu próprio nível de mentira. Como mentimos!

Como engabelamos os outros. Como nos mostramos como, realmente, somos. Se a gente um dia conseguisse fazer isso o mundo mudaria bastante.

Ai a gente pararia de admitir que a mentira é um mal necessário. E deixaríamos de assistir os noticiários falaciosos e mentirosos que nos impingem todos os dias, em defesa de interesses alheios ou em acobertamento de ideologias ou religiões que, honestamente, sabemos errados e negativos.

O que há de bom nisso tudo? Que mais e mais pessoas estão tomando consciência das coisas. Que cada vez mais pessoas estão aprendendo a raciocinar e pensar com a própria cabeça. Que cada um sabe descobrir o que é uma notícia falsa ou tendenciosa e já aprendeu o suficiente para saber que as maiores mentiras estão nas comunicações dos meios oficiais. De grandes redes de comunicação estamos sendo cordeirinhos, manipulados por essas redes, caminhando para o matadouro.

Que cada dia as pessoas estão ficando mais conscientes e sabendo se posicionar. Tá todo mundo arrodeando o elefante para tirar suas próprias conclusões.

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