Maria Pereira da Silva: A Mestra Bonequeira que Resgata e Revive a Cultura Popular do Agreste Pernambucano
Suas bonecas, vestidas com cores e traços da região, revelam mais do que beleza: são retratos fiéis do universo feminino regional.
Por Flávio José Jardim
atualizado há 1 semana
Publicado em 27 de setembro de 2024, 09h15
POVOADO DE CACIMBÃO, PESQUEIRA (PE) - No coração do Povoado de Cacimbão, no município de Pesqueira, agreste de Pernambuco, reside uma verdadeira guardiã da cultura popular: com 91 anos de idade, Maria Pereira da Silva, mais conhecida como Dona Mariá. Aos olhos de muitos, suas bonecas de pano são simples objetos artesanais, mas, para aqueles que conhecem sua trajetória, cada peça é uma manifestação rica de saberes ancestrais, tradições e empoderamento feminino. Mestra na arte de criar bonecas, Dona Mariá transforma retalhos de tecido em símbolos de resistência, identidade e memória de um povo.
A produção artesanal de Dona Mariá não se resume apenas a criar bonecas. Suas mãos recriam histórias de mulheres da sua comunidade, capturando traços de sua cultura, vivências e sonhos. Suas bonecas, vestidas com cores e traços da região, revelam mais do que beleza: são retratos fiéis do universo feminino regional. Cada peça materializa uma história de vida, muitas vezes permeada por desafios e conquistas, refletindo o cotidiano de mulheres que, como a própria mestra, têm suas raízes fincadas na terra e nas tradições do agreste.
Dona Mariá aprendeu o ofício ainda jovem, observando as mulheres de sua família. Ao longo dos anos, desenvolveu um estilo próprio, mantendo viva uma prática artesanal que, em muitos lugares, já foi deixada de lado. Em suas criações, a mestra preserva técnicas transmitidas por gerações, ao mesmo tempo em que imprime seu olhar sobre o mundo que a cerca. Suas bonecas, feitas com materiais simples e um cuidado extraordinário, são testemunhos do poder transformador da arte popular.
O trabalho de Dona Mariá não se limita a um fazer estético; ele carrega em si um importante papel de preservação cultural. Em um tempo de crescente urbanização e industrialização, seu ofício representa um resgate da tradição manual e uma resistência ao apagamento de práticas culturais locais. Além disso, suas bonecas trazem à tona questões sociais, como o empoderamento feminino, ao representar mulheres em suas diversas facetas: fortes, independentes e conectadas às suas raízes.
A arte de Dona Mariá já foi reconhecida por colecionadores e estudiosos, mas, ainda assim, permanece, em grande parte, desconhecida do grande público. No entanto, a mestra bonequeira continua sua missão de preservar e difundir a cultura popular do agreste, mesmo sem o apoio de políticas públicas culturais. Ela é, para sua comunidade, um símbolo de resistência e de continuidade de uma rica tradição que merece ser valorizada em todo o país.
A cada boneca criada, Dona Mariá contribui para a construção de uma identidade cultural que, por vezes, é silenciada. Seu trabalho é uma prova do poder da arte popular em conectar passado e presente, em dar voz às histórias que brotam da terra e em transformar o cotidiano em expressão artística. Como mestra bonequeira, ela não apenas cria arte, mas também inspira futuras gerações a manterem viva a chama das tradições do povoado de Cacimbão e do agreste pernambucano.
Mestra Dona Mariá é, sem dúvida, uma das grandes guardiãs da cultura popular brasileira, e sua obra merece ser conhecida, celebrada e preservada como um patrimônio cultural de inestimável valor.
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