Política

A tragédia de Walmir Chapada: o vaqueiro que desafiou preconceitos e marcou uma geração

Figura emblemática do Sertão pernambucano, Chapada foi brutalmente assassinado, deixando um legado de coragem e inclusão

Por Flávio José Jardim atualizado há 2 meses
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A tragédia de Walmir Chapada: o vaqueiro que desafiou preconceitos e marcou uma geração

Na noite do último sábado (30), o Sertão de Pernambuco foi abalado por um crime que deixou a cidade de Floresta em luto. O vaqueiro Walmir Calaça, conhecido carinhosamente como "Chapada", foi assassinado a tiros no centro da cidade, próximo à Academia Pernambuco. Aos 58 anos, ele teve sua trajetória interrompida de forma violenta, por motivos que permanecem desconhecidos. 

 

O crime ocorreu por volta das 19h e, apesar dos esforços de populares em socorrê-lo ao Hospital Coronel Álvaro Ferraz, Walmir já chegou sem vida à unidade.

 

Chapada não era um homem comum. Sua conexão com a cultura sertaneja, especialmente com as tradições dos vaqueiros, fazia dele uma figura notável na região. No ano passado, ele ganhou reconhecimento nacional ao protagonizar um ato de coragem e empatia que desafiou preconceitos: durante a tradicional Missa do Vaqueiro, em Serrita, Walmir carregou uma bandeira LGBTQIA+ como símbolo de apoio à diversidade, mesmo sendo heterossexual.

 

“Esse é o pedaço de pano mais pesado que já carreguei, mas eu não deixei de carregar, porque isso vai abrindo a cabeça de alguém”, disse ele na época, em entrevista ao Portal UOL. A declaração sintetiza a essência de Chapada: um homem à frente de seu tempo, que acreditava no poder do diálogo e do exemplo para transformar realidades.

 

A atitude nasceu de uma profunda empatia. Inspirado por uma reportagem sobre o massacre na boate Pulse, nos Estados Unidos, onde 49 pessoas da comunidade LGBTQIA+ foram assassinadas, Chapada decidiu levantar sua voz contra a intolerância. Ele reconhecia as dificuldades enfrentadas por homossexuais em sua própria cidade e acreditava que pequenos gestos poderiam provocar grandes mudanças.

 

Sua morte deixou uma lacuna profunda na comunidade de Floresta, onde era amplamente respeitado por sua postura íntegra e generosidade. “Ele era um exemplo para todos nós, um homem que unia coragem e humildade”, comentou um dos amigos mais próximos de Walmir. Nas redes sociais, a comoção foi imediata, com centenas de mensagens lamentando a tragédia e exaltando seu legado.

 

O crime chocou não apenas pela violência, mas pela perda de uma personalidade tão marcante. A Polícia Civil já iniciou as investigações para esclarecer o ocorrido. Enquanto isso, as autoridades pedem que qualquer informação que possa ajudar no caso seja encaminhada à delegacia local. O corpo de Walmir foi levado ao Instituto de Medicina Legal, e amigos e familiares aguardam respostas.

 

O impacto de Chapada transcende sua atuação como vaqueiro. Ele representava a resistência sertaneja, o respeito às tradições e o compromisso com uma sociedade mais justa. Seu gesto em prol da inclusão social continuará a inspirar aqueles que acreditam no poder da empatia e do respeito às diferenças.

 

Com sua partida, Floresta perdeu não apenas um vaqueiro, mas um símbolo de coragem. A dor pela sua ausência é acompanhada pela certeza de que seu legado permanecerá vivo, lembrando que, mesmo nas terras áridas do Sertão, há espaço para semear a esperança.

 

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chapada
chapada (Flávio/flaviojjardim.com.br)

 

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