GALBA MACÊDO | O silêncio da Infância interrompida
Vivemos um tempo em que a infância se tornou artigo de luxo. Crianças, cada vez mais cedo, são empurradas para um mundo que não é delas.
Por Flávio José Jardim
atualizado há 1 mês
Publicado em
O salto alto substitui o tênis gasto de brincar na rua, o celular ocupa o lugar do pião e da boneca, e a maquiagem apaga a naturalidade da pele ainda em formação. Não é evolução, é perda.
A adultização é mais do que uma moda. É um fenômeno social que escancara a pressa com que o mercado e a sociedade tratam a infância. A publicidade vende roupas “adultas” para corpos de oito anos, as redes sociais estimulam performances que imitam sensualidade, e os pais, muitas vezes sem perceber, reforçam essa lógica quando confundem autonomia com consumo e liberdade com exposição.
O preço é alto. A infância roubada cobra sua fatura no futuro: ansiedade, depressão, vazio existencial. Como se pular etapas significasse ganhar tempo, quando, na verdade, significa perder vida. O brincar, a imaginação, o direito ao erro e à ingenuidade são substituídos por uma cobrança precoce de desempenho, estética e sucesso.
É preciso dizer: a adultização não é inocente. É um projeto lucrativo. Quanto antes uma criança desejar ser adulta, mais cedo será consumidora fiel de cosméticos, roupas, aparelhos eletrônicos, estilos de vida que alimentam o ciclo da insatisfação. Crescer rápido não é escolha delas, é imposição de um sistema que explora até a pureza.
E nós, adultos, assistimos. Alguns se orgulham do “quanto meu filho é esperto e maduro para a idade”. Outros se calam, ocupados demais para perceber que o futuro anda sendo hipotecado no presente.
A infância não é ensaio para a vida adulta. É parte essencial dela. Retirá-la é mutilar não só a criança, mas a sociedade que se forma a partir dela.
Galba Macêdo
26/08/2025
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