SATIRO, O REI DAS CHAVES
Pesqueira despede-se de uma lenda popular que carregava a simplicidade de um gênio e o coração de um poeta.
Por Flávio José Jardim
atualizado há 3 meses
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Na manhã cinzenta que se abateu sobre Pesqueira, o silêncio dizia mais que as palavras. A cidade perdeu não apenas um homem, mas um ícone: Satiro Torres, carinhosamente conhecido como o Rei das Chaves. Sua presença pelas ruas, com as mãos sempre ocupadas por molhos de chaves e histórias, tornou-se parte do imaginário local — figura de confiança, humildade e generosidade.
Satiro era mais do que um chaveiro. Era guardião de portas e de segredos, confidente de vizinhos, amigo dos comerciantes e conselheiro informal de toda uma geração. A sua oficina, pequena e modesta, tornou-se uma espécie de ponto de encontro — lugar onde as chaves eram forjadas com precisão e onde palavras sinceras eram trocadas com afeto.
Sua genialidade estava justamente em sua simplicidade. Criativo, habilidoso, solucionava problemas com ferramentas rudimentares e sabedoria rara. Era desses homens que não se encontram mais com facilidade — mestre em seu ofício, leal em suas amizades, e grande contador de causos. Ao lado de São Pedro, agora, talvez esteja testando a fechadura do céu.
A comoção em torno de sua partida revelou a dimensão do impacto que Satiro teve na comunidade. Nas redes sociais, manifestações de carinho e saudade surgiram em tom de reverência. N[os do site enviamos condolências a confreira Jacqueline Torres, da APLA, filha de Satiro.
Satiro deixa um legado que vai além de seu ofício. Ele personificava o que há de mais nobre na convivência humana: a confiança. Em tempos de fechaduras digitais, ele ainda representava o elo direto entre as pessoas e seus lares, seus negócios, suas vidas. De certa forma, era o elo entre o passado e o presente.
Há quem diga que agora o céu tem suas portas mais bem cuidadas. São Pedro, já acostumado com as chaves celestiais, deve estar surpreso com a chegada de um colega tão experiente. E se as portas da eternidade estiverem emperradas, não há dúvida de que Satiro dará um jeito — com sua chave mestra e um sorriso no rosto.
Pesqueira segue adiante, mas não será a mesma sem a figura do Rei das Chaves. Sua ausência será sentida na rotina dos moradores, nos portões que não mais ouvirão seu tilintar familiar. Mas sua memória, essa, ficará trancada a sete chaves nos corações daqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
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