A Freira e o Papa: O Último Adeus Que Rompeu o Protocolo
Geneviève Jeanningros, a freira que comoveu o Vaticano, mostrou que o amor pode romper barreiras formais — até no velório do Papa.
Por Flávio José Jardim
atualizado há 2 meses
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Na quietude solene da Basílica de São Pedro, um gesto simples comoveu o mundo. A freira Geneviève Jeanningros, de 82 anos, ignorou a rigidez do protocolo e se aproximou do caixão do Papa Francisco. Em um momento reservado apenas ao alto clero — cardeais, bispos, padres — ela, com permissão especial, ficou diante do corpo do pontífice e chorou. Chorou como se perdesse não um líder espiritual, mas um amigo. E era exatamente isso.
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Geneviève não era uma estranha à Santa Sé. Ao contrário, encontrava-se semanalmente com Francisco, às quartas-feiras. Era sua confidente, sua conselheira informal, sua provocadora carinhosa — tanto que o Papa a apelidou de enfant terrible, a “criança terrível” que sempre o desafiava com afeto. Sua presença, mesmo em um momento reservado, foi uma exceção permitida pelo próprio coração do Vaticano.
O gesto não foi apenas uma despedida pessoal. Geneviève simbolizou, ali, todos os que Francisco acolheu durante seu papado: os marginalizados, os esquecidos, os que desafiam as estruturas e ainda assim amam a fé. Não por acaso, a freira vive há mais de cinco décadas em meio a comunidades LGBTQIA+, promovendo pontes entre elas e a Igreja. Ela foi, muitas vezes, o elo entre o Papa e os que a Igreja institucional ainda hesita em abraçar.
A amizade nasceu de uma carta. Geneviève escreveu ao recém-eleito Francisco para contar sobre sua tia missionária, Léonie Duquet, desaparecida durante a ditadura argentina. O Papa respondeu. Desde então, seguiram-se visitas, trocas de empanadas, encontros semanais na Praça São Pedro e uma revolução silenciosa: levar até o pontífice aqueles que mais precisavam de benção — ciganos, transgêneros, doentes, casais discriminados.
Em uma dessas visitas, promoveu um dos momentos mais impactantes do pontificado: a bênção a uma família americana cujo filho, médico e homossexual, morreu de Covid e foi rejeitado pela Igreja local. “Eles recomeçaram, em todos os sentidos”, diria Geneviève. A freira não apenas levou causas, mas devolveu dignidade. E agora, no adeus ao amigo, deixou o mundo ver que santidade e humanidade podem caminhar juntas.
Naquela quarta-feira, entre cardeais e padres, uma mulher de hábitos simples, de alma indomável, parou o tempo. Geneviève Jeanningros não quebrou um protocolo — ela selou uma história. Uma história de amizade, coragem e fé vivida na linha de frente da compaixão.

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