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PESQUEIRENSE CARDEAL ARCOVERDE PARTICIPOU DE DOIS CONCLAVES | O Eterno Cardeal de Cimbres: Joaquim Arcoverde, Pesqueira e o Espírito dos Conclaves

Um dia após comemorar 145 anos de Pesqueira e no dia da morte do Papa Francisco, o mundo volta seus olhos ao Vaticano para um novo conclave — e relembra a figura imortal do primeiro cardeal do Hemisfério Sul, nascido no coração de Pesqueira, na Vila de Cimbres, que participou dos dois grandes conclaves do século XX.

Por Flávio José Jardim atualizado há 3 semanas
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PESQUEIRENSE CARDEAL ARCOVERDE PARTICIPOU DE DOIS CONCLAVES | O Eterno Cardeal de Cimbres: Joaquim Arcoverde, Pesqueira e o Espírito dos Conclaves

 

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cardeal (Flávio/flaviojjardim.com.br)

 

PESQUEIRA (PE) - A história às vezes se escreve com a precisão de um poeta e a pontualidade de um sino. Neste 21 de abril de 2025, o mundo assiste à morte do Papa Francisco, encerrando uma era de diálogo, fraternidade e renovação da fé. E no Brasil, mais precisamente em Pesqueira, Pernambuco, o céu parece ressoar um cântico antigo — um eco vindo de 1930, quando, dois dias antes do aniversário da cidade, partia deste mundo o maior nome da Igreja brasileira até então: Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, o Cardeal Arcoverde.

 

Filho da limítrofe entre Agreste e Sertão, nascido na antiga Vila de Cimbres, distrito de Pesqueira, Arcoverde foi o primeiro cardeal da América Latina e do Hemisfério Sul. Um feito que não apenas quebrou paradigmas, mas revelou ao mundo a força mística e intelectual que brota da terra nordestina.

 

Um dia após Pesqueira celebrar seus 145 anos de elevação à categoria de cidade, é impossível não traçar paralelos entre o nascimento dessa urbe sertaneja e a partida de seu filho mais ilustre, cuja trajetória simboliza, mais que um legado clerical, um símbolo da capacidade universal da periferia de tocar o centro — da roça à Roma, dos brejos ao coração do Vaticano.

 

A Semente Plantada em Cimbres

 

O sítio Olho D’Água dos Bredos, onde nasceu Joaquim Arcoverde em 17 de janeiro de 1850, parecia, à primeira vista, um ponto perdido no mapa imperial. No entanto, foi nesse lugar de matas e missas, fé e poeira, que se formou um menino de espírito elevado, moldado pela família Cavalcanti — herdeiros de linhagens indígenas e europeias, numa simbiose tão brasileira quanto rara. Sua avó materna, Maria do Espírito Santo Arcoverde, descendente da indígena Muira Ubi, trazia nas veias o sangue tabajara.

 

Aos 13 anos, o menino partiu para o Seminário Menor de Cajazeiras. Aos 16, rumo a Roma. Tornava-se ali não apenas um estudante brilhante, mas uma promessa da Igreja no Novo Mundo.

 

O Construtor da Fé no Brasil

 

Ordenado sacerdote na Basílica de São João de Latrão, em 1874, Arcoverde dedicou sua juventude à formação de futuros padres no Seminário de Olinda. Foi reitor, professor, pregador e diretor do Colégio Pernambucano. Recusou ser bispo auxiliar da Bahia, pois via no ensino sua vocação mais profunda.

 

Mas o chamado episcopal viria em 1890, quando Leão XIII o nomeou bispo de Goiás. Em seguida, passou por São Paulo, onde sucedeu Dom Lino deodato e foi figura-chave na estruturação da arquidiocese.

 

Em 1897, assumiu a arquidiocese do Rio de Janeiro, então a mais influente do país. Em 1905, foi criado cardeal por São Pio X. Assim, o sertanejo de Cimbres passou a integrar o mais exclusivo círculo da Igreja Católica: o Colégio Cardinalício.

 

Nos Conclaves da História

 

Cardeal Arcoverde participou do Conclave de 1914, que elegeu o Papa Bento XV. Representou o Brasil e a América Latina num momento delicado, com a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Sua presença deu voz ao sul do mundo num Vaticano ainda muito europeu e fechado.

 

Em 1922, quando da morte de Bento XV, Arcoverde não pôde chegar a tempo para o conclave que elegeu Pio XI, devido à sua saúde debilitada. Sua ausência foi sentida, especialmente pelos cardeais não italianos, que o viam como uma ponte entre o Velho e o Novo Mundo, entre a tradição e o futuro da Igreja.

 

A Morte e o Legado

 

Morreu em 18 de abril de 1930, numa sexta-feira santa, aos 80 anos, ainda como arcebispo do Rio de Janeiro. Sua morte comoveu o país. O próprio presidente Washington Luís compareceu ao velório. Recebeu honras de chefe de Estado. Seu corpo percorreu as ruas da capital em cortejo solene, seguido por prelados e povo.

 

Seu discípulo, Dom Sebastião Leme, que ele próprio consagrara bispo, tornou-se o segundo cardeal brasileiro apenas meses depois, continuando o trabalho de seu mestre espiritual.

 

A Conexão com Pesqueira

 

Arcoverde está para Pesqueira como Dante está para Florença. Sua figura paira sobre a cidade como um símbolo de grandeza. Em 1930, sua morte, em 18 de abril, antecedeu por dois dias o aniversário da cidade. Agora, em 2025, a coincidência retorna com força simbólica: Pesqueira celebra 145 anos e, um dia depois, o mundo assiste à morte de outro papa, o argentino Francisco.

 

A cidade se vê, mais uma vez, chamada a olhar para o Vaticano. A memória de Arcoverde ressurge — não como nostalgia, mas como farol. Num tempo em que a Igreja busca novos caminhos, a lembrança do primeiro cardeal latino-americano — nascido na Vila de Cimbres — ganha novo fôlego.

 

A Esperança de um Novo Sul

 

O Cardeal Arcoverde plantou a possibilidade de que, um dia, o Papa fosse brasileiro. Noventa e cinco anos depois de sua morte, o mundo viu um papa latino, Jorge Mario Bergoglio, assumir o trono de Pedro. E agora, com sua partida, a pergunta ressurge: será a vez de um brasileiro?

 

Se assim for, será também, de certa forma, a realização de um sonho arcoverdiano. O sonho de um sertanejo que rompeu fronteiras, ergueu pontes, e fez da fé um instrumento de justiça, saber e inclusão.

 

CARDEAL ARCOVERDE PARTICIPOU DE DOIS CONCLAVES

 

O novo conclave que se aproxima terá, inevitavelmente, a sombra luminosa do passado. Entre os corredores da Capela Sistina, ecoará a memória do Cardeal Arcoverde. Não como uma lembrança estática, mas como presença viva da força do sul global, da fé sertaneja, da voz de Cimbres.

 

Em tempos de incerteza, é preciso ouvir os que vieram antes. E Joaquim Arcoverde, eterno cardeal do sertão, ainda tem muito a dizer ao mundo — sobre fé, coragem, humildade e sobre como um homem do interior pode mudar a história da Igreja Universal.

 

Pesqueira, tua terra gerou um gigante. Que tua celebração de 145 anos seja também um tributo ao teu filho mais ilustre. E que, em tempos de transição no Vaticano, sua lembrança inspire novos cardeais a olhar para além do Tibre — a olhar para o sertão. Porque ali, nasceu um dos grandes do mundo.

 

CONCLAVES

 

Sim, o Cardeal Arcoverde (Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti) participou do conclave de 1914, que elegeu o Papa Bento XV. No entanto, ele não participou do conclave de 1922, que elegeu o Papa Pio XI, devido a problemas de saúde que o impediram de chegar a Roma a tempo. 

O Cardeal Arcoverde foi o primeiro cardeal a nascer no Hemisfério Sul. Ele era um importante membro do Colégio Cardinalício e sua ausência no conclave de 1922 foi lamentada, principalmente por cardeais não italianos que desejavam a sua participação devido à sua representatividade. 

 

Conclaves

Conclave de 1914 — participou da eleição do Papa Bento XV.
Conclave de 1922 — Não participou da eleição do Papa Pio XI por não chegar a tempo para o conclave.
 

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cardeal (Flávio/flaviojjardim.com.br)

 

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