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ALUNA DE 11 ANOS MORTA | Boletim de ocorrência diz que colega iniciou espancamento porque a vítima “não quis ficar com ele”

O brutal assassinato da pequena Alícia Valentina, de apenas 11 anos, expõe o lado mais sombrio e doentio da convivência escolar no Sertão de Pernambuco.

Por Da Redação atualizado há 1 mês
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ALUNA DE 11 ANOS MORTA | Boletim de ocorrência diz que colega iniciou espancamento porque a vítima “não quis ficar com ele”

 

ALICIA
ALICIA (Flávio/flaviojjardim.com.br)

 

BELÉM DE SÃO FRANCISCO (PE) - Mundo cão. Essas duas palavras resumem a tragédia que abalou Belém do São Francisco nos últimos dias. Um boletim de ocorrência desolador trouxe à tona a motivação do crime: um dos colegas da aluna iniciou o espancamento simplesmente porque a vítima “não quis ficar com ele”. O motivo torpe, carregado de crueldade e rejeição mal assimilada, abriu caminho para uma violência covarde que terminou na morte da menina.

 

Alícia Valentina, de apenas 11 anos, foi espancada dentro da Escola Municipal Tia Zita por quatro meninos e uma menina. Uma criança indefesa, em um espaço que deveria garantir proteção e aprendizado, acabou sendo vítima da brutalidade que nasceu da rejeição e do machismo precocemente enraizado. A escola, lugar de sonhos, se transformou em cenário de terror.

 

O atestado de óbito é frio, mas arrebatador: “traumatismo cranioencefálico produzido por instrumento contundente”. Palavras técnicas que escondem a dor insuportável de uma família que perdeu sua filha de forma repentina e cruel. A suspeita é de que Alícia tenha sido atingida com algum objeto na cabeça, além de sofrer chutes e socos. Uma violência sem limites, praticada por crianças contra outra criança.

 

O crime ocorreu na quarta-feira, 3 de setembro. Alícia foi socorrida, mas a gravidade das lesões a levou a uma batalha desigual pela vida. No Hospital da Restauração, em Recife, a menina teve morte cerebral confirmada no domingo, 7. O desfecho foi devastador para familiares, amigos e para toda a comunidade que agora se vê diante de uma ferida aberta que dificilmente cicatrizará.

 

O velório e enterro, realizados nesta terça-feira, 9, foram momentos de desespero coletivo. A cidade parou para chorar a perda de Alícia. O cortejo, seguido por dezenas de pessoas, parecia carregar não apenas o corpo da menina, mas também a dor e a revolta de toda uma população. O silêncio cortado por choros e gritos de inconformismo ecoava pelas ruas de Belém do São Francisco.

 

Um detalhe agravou ainda mais a revolta: de acordo com os familiares, nenhum funcionário da escola onde o crime aconteceu compareceu ao enterro. O gesto, interpretado como omissão ou indiferença, reacendeu a indignação de quem exige respostas e responsabilidades. A ausência foi sentida como um abandono doloroso em um momento em que a presença institucional poderia, ao menos, simbolizar solidariedade.

 

Familiares da vítima cobram justiça. “Até agora ninguém da família materna foi ouvido, exceto a mãe, que ainda está no Recife”, disse uma parente de Alícia. O sentimento é de desamparo, de que as autoridades ainda não deram a devida atenção à brutalidade do crime. “Queremos que os responsáveis, mesmo sendo menores, sejam punidos. Alícia não pode ter morrido em vão”, completou a parente.

 

Na madrugada anterior ao enterro, o corpo de Alícia chegou do Recife e foi velado em sua cidade natal. O clima era de profunda comoção. Entre lágrimas, cerca de 20 colegas de escola prestaram uma homenagem singela e devastadora: em volta do caixão, crianças rezaram por sua amiga, como se tentassem devolver um pouco da paz que lhe foi roubada de forma tão cruel.

 

A brutalidade do episódio levantou questões perturbadoras. O que leva crianças de 11 anos a se tornarem algozes? Como é possível que o ambiente escolar, em vez de coibir, tenha permitido que um ato de tamanha violência ocorresse dentro de suas paredes? A tragédia de Alícia revela não apenas falhas de segurança, mas também um abismo social e psicológico que precisa ser encarado com urgência.

 

O caso também evidencia o peso das relações de poder e de gênero desde a infância. Uma menina morreu porque disse “não” a um colega. O não que deveria ser respeitado foi transformado em sentença de morte. Esse cenário desnuda a face mais cruel da cultura da violência, do machismo e da intolerância que, mesmo em crianças, se manifesta de maneira letal.

 

A Polícia Civil segue investigando. Mas a comunidade já sente que nenhuma investigação devolverá a vida de Alícia. O que resta é o clamor por mudanças — em políticas públicas, em segurança escolar, em valores que precisam ser urgentemente reconstruídos dentro das famílias e das instituições de ensino.

 

Belém do São Francisco, conhecida por seu povo acolhedor e tradições culturais, agora vive um luto coletivo. As ruas que antes ecoavam festas e encontros, hoje murmuram dor. Uma dor que não se cala e que se transformará em cicatriz para todos que acompanharam a tragédia.

 

Alícia Valentina não é apenas um nome em um boletim de ocorrência. É uma vida interrompida de maneira brutal. Uma criança que poderia ter sido qualquer filha, irmã ou vizinha. Sua morte é um grito de alerta, um chamado para que a sociedade se olhe no espelho e enfrente as sombras que produzem monstros tão cedo. O mundo cão que matou Alícia precisa ser combatido com memória, justiça e transformação.

 

ALUNA ALÍCIA
ALUNA ALÍCIA (Flávio/flaviojjardim.com.br)

 

CRIME
CRIME (Flávio/flaviojjardim.com.br)

 

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