Política

HUNGRIA E SEXTOU EM ALERTA: Bebidas adulteradas ameaçam a saúde do Brasil

O drama do cantor Hungria expõe uma crise nacional e leva o Ministério da Saúde a recomendar cautela no consumo de destilados

Por Flávio José Jardim atualizado há 1 dia
Publicado em

HUNGRIA E SEXTOU EM ALERTA: Bebidas adulteradas ameaçam a saúde do Brasil

O Brasil chega ao primeiro fim de semana de outubro em clima de apreensão. O tradicional “sextou” que anuncia alegria e descontração agora carrega o peso de um alerta nacional: o risco de bebidas alcoólicas adulteradas com metanol. A internação do rapper Hungria, ícone do cenário musical, colocou o país em choque e trouxe à tona uma ameaça silenciosa que pode levar à cegueira e até à morte.

 

Na noite da última quarta-feira (1º), câmeras de segurança flagraram o artista comprando bebidas em uma distribuidora em Vicente Pires, no Distrito Federal. Horas depois, Hungria foi parar na UTI, com sintomas compatíveis de intoxicação por metanol: dor de cabeça, náuseas, vômitos e visão turva. A notícia correu rápido e transformou um episódio particular em símbolo de uma crise nacional de saúde pública.

 

O impacto foi imediato. Ainda na tarde seguinte, agentes da Vigilância Sanitária e da Polícia Civil interditaram a distribuidora onde Hungria fez compras e recolheram lotes suspeitos em outro supermercado, em Águas Claras. O Distrito Federal, que até então não registrava casos do tipo, agora vive a sombra de seu primeiro episódio oficial de intoxicação por metanol.

 

A distribuidora Amsterdan, citada nas investigações, nega irregularidades e garante que todos os produtos comercializados possuem nota fiscal e certificação de origem. Mesmo assim, a interdição preventiva mostra a gravidade do caso e a urgência em esclarecer a procedência de cada garrafa vendida. A dúvida agora é se a bebida consumida por Hungria estava entre as adulteradas.

 

Segundo a assessoria do artista, o rapper de 34 anos ingeriu vodca na casa de um amigo, pouco antes de passar mal. Ele foi o único a consumir a bebida suspeita naquela noite, o que reforça as suspeitas de contaminação. Atualmente, Hungria está internado no Hospital DF Star, em Brasília, com sinais de melhora clínica, mas ainda sem diagnóstico definitivo.

 

O drama do cantor é apenas a ponta de um iceberg. Em São Paulo, já são 10 casos confirmados e outros 29 em investigação. No total, o Ministério da Saúde contabiliza 59 casos suspeitos em todo o país: 53 em São Paulo, cinco em Pernambuco e um no Distrito Federal. Até agora, 11 intoxicações e uma morte foram confirmadas. Outras sete mortes seguem em análise, espalhadas entre os dois estados mais afetados.

 

Diante do cenário, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, fez um apelo direto à população: “Evitem consumir bebidas destiladas incolores cuja origem não seja absolutamente segura. Não estamos falando de um produto essencial para a vida das pessoas. É melhor não arriscar”. A fala, carregada de urgência, tenta frear o consumo irresponsável em um momento em que bares, festas e encontros multiplicam o risco.

 

Padilha explicou que a cerveja, por exemplo, é mais difícil de ser adulterada por causa do processo de produção, do gás e da embalagem. Já vodcas, cachaças e outras bebidas destiladas incolores se tornam alvos fáceis de falsificação, representando risco imediato à vida.

 

O Ministério da Saúde anunciou medidas emergenciais para enfrentar a crise. Entre elas, a compra de 4.300 ampolas de etanol farmacêutico, usado como antídoto em casos de intoxicação por metanol. Também foi feita a solicitação à Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) da doação imediata de 100 tratamentos de fomepizol, medicamento ainda não registrado no Brasil, mas essencial para casos graves.

 

A pasta também estuda adquirir até 1.000 tratamentos completos para garantir estoque estratégico no país. Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acionou dez agências reguladoras internacionais para acelerar o acesso ao fomepizol. O recado é claro: a crise ultrapassa fronteiras e exige resposta global.

 

No Distrito Federal, a Secretaria de Saúde orienta que qualquer suspeita de intoxicação deve ser imediatamente notificada. Profissionais de saúde têm à disposição canais diretos com o CIATox e o CIEVS/DF para agilizar o atendimento e o registro dos casos. A meta é impedir que atrasos custem vidas.

 

O metanol, muitas vezes usado na indústria como solvente ou combustível, não tem qualquer função no consumo humano. No organismo, ele se transforma em ácido fórmico, substância altamente tóxica capaz de causar lesões irreversíveis no nervo óptico, levando à cegueira, além de falência múltipla de órgãos.

 

Em São Paulo, vítimas já relataram perda de visão parcial ou total após ingerirem bebidas adulteradas. Em Pernambuco, duas mortes estão em investigação, em cidades do interior: João Alfredo e Lajedo. A dimensão nacional do problema deixa claro que não se trata de casos isolados, mas de uma rede de adulteração que precisa ser desmantelada.

 

Enquanto isso, Hungria se torna rosto e voz involuntária de uma tragédia anunciada. Sua luta no hospital simboliza a de milhares de brasileiros expostos à ganância de falsificadores que veem na adulteração uma oportunidade criminosa de lucro fácil.

 

As autoridades reforçam: é preciso cautela redobrada neste fim de semana. O tradicional brinde de sexta-feira pode se transformar em tragédia. O “sextou” festivo agora se mistura ao medo e à dúvida sobre o que realmente está dentro de cada garrafa.

 

A investigação da Polícia Civil do Distrito Federal segue em ritmo acelerado. Peritos analisam os lotes de bebidas recolhidos na distribuidora Amsterdan, e os resultados laboratoriais devem trazer respostas nos próximos dias. Para a família e os fãs de Hungria, resta a esperança de que o caso sirva de alerta e que vidas sejam preservadas.

 

O episódio expõe a necessidade de repensar o consumo, fiscalizar com mais rigor e punir com severidade quem coloca veneno disfarçado de bebida no mercado. Até lá, a recomendação oficial ecoa como um mantra de sobrevivência: evitar destilados de origem duvidosa é a única forma de garantir que a diversão não termine em tragédia.

 

Neste “sextou”, o país não brinda apenas ao fim de semana, mas também à vida – e ao desejo coletivo de que Hungria se recupere plenamente, transformando sua dor em alerta nacional. A festa, por enquanto, pede cautela. O copo cheio de esperança deve ser o único a ser levantado.

 

 

 

 

 

--------------------------------------------------------

Você precisa estar logado para comentar. Por favor, faça login ou crie a sua conta.

Ainda não há comentários para esta notícia. Seja o primeiro a comentar!

Veja também