O Espelho de Machado de Assis
Num dia como este, em 1839, nasceu um menino franzino no morro do Livramento, no Rio de Janeiro. Ninguém diria — nem mesmo os vizinhos, nem o destino — que aquele mulato de origem humilde, neto de escravos e órfão precoce, acabaria por se tornar o maior nome da literatura brasileira. Mas Machado não escrevia para ser celebrado; escrevia porque enxergava demais.
Por Flávio José Jardim
atualizado há 2 semanas
Publicado em


Ao completarmos 186 anos de seu nascimento, talvez ele olhasse para nós com o mesmo olhar irônico que lançava a Brás Cubas, com a mesma lucidez implacável com que desmontava vaidades em poucas linhas. E, quem sabe, até risse — contido, de canto de boca — vendo a sociedade ainda tão parecida com a que descreveu há mais de um século.
Machado de Assis escreveu espelhos. Em suas páginas, os personagens se despem sem perceber, revelando o ego, o medo, o amor calculado, a moral fingida. E ao lermos, nos vemos ali também, nem sempre com conforto.
Celebrar Machado é lembrar que o Brasil produziu um gênio que falou da alma humana antes que Freud ousasse teorizá-la. E fez isso com uma pena delicada, afiada como bisturi, mas envolta em ironia e elegância.
No fundo, talvez ele soubesse: mais do que o tempo ou as modas, o que permanece é a verdade que se esconde atrás do verniz — e que um bom escritor, como ele, tem o talento de revelar.
Feliz aniversário, Machado. Ainda te lemos. Ainda te vemos.
Galba Macêdo
Junho/ 2025
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